quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Você quer?

-Você quer? Aquilo me fez despertar de uma linha de pensamento que até então corria rapidamente por tudo que eu pudesse lembrar a respeito da falta de companhia para o jantar da firma hoje à noite. Quem era ela? O que a fazia me oferecer qualquer coisa sem nem ao menos me conhecer? E por que ela tinha aquele sorriso meigo e o olhar inocente? Não sei. Só sei que me encantei de verdade. Sempre achei que essas coisas de amor à primeira vista era coisa de filme ou de adolescente alienado. E aqui estou eu. Encantado. E isso apenas com duas palavras. Duas palavras, um sorriso lindo e um olhar doce. Não consegui responder.
-Moço? São amoras. Você quer? Outra vez ela cortou meus pensamentos, dessa vez a seu respeito.
-Ah, muito obrigado.
-Qual o seu nome?
-O que?
-Seu nome, pra eu não ficar te chamando de moço.
-Ah, Isaac
-Geovana. Mas pode me chamar de Geo.
-Ah, oi, Geo.
-Minha mãe sempre me ensinou a ser simpática com todos, por favor, não me olhe estranho.
TODO MUNDO? E eu achando que era só comigo. Mas agora eu já sei seu nome. E que ela frequenta o mesmo café que eu. Não o café da moda, grande e iluminado artificialmente. Um café vintage com mesas e cadeiras de madeira forradas com toalhas de piquenique, louça branca e uma sensação de lar. Ela deve gostar disso, sei porque todo dia quando venho ela está, sempre a vi mas nunca reparei realmente nela. Hoje o café estava lotado e permiti que ela se sentasse à mesa comigo. Não sei se foi sorte, mas justamente hoje sentei em uma mesa que só tinha lugar para duas pessoas. E ela foi quem chegou e sentou ali. Ali na minha frente para me oferecer amoras. Amoras. Pedi licença, fui ao bar para pedir um café, já que estava cheio o garçom, eu acho, iria querer uma 'ajudinha', meu cérebro também precisava dela. Pedi meu café e enquanto esperava eu conversava com a atendente. Acabei por descobri que a Geovana é do tipo menina tímida que não conversa com ninguém, a não ser que precise de ajuda e que se encante pela pessoa em questão. Meu mundo girou. Não esperei o café e voltei pra mesa com medo que ela fosse embora. Mas não, ela estava lá, com o mesmo sorriso e o mesmo brilho nos olhos. Sentei, tomei coragem e comecei.
-Está tudo bem com você?
-Ér.. não muito. Dá pra ver assim?
-Não muito.
Ela sorriu sem graça e abaixou um pouco os olhos. O brilho permaneceu, mas agora seu olhar era longo e perdido. Perguntei e ela me respondeu que eram os pais dela que estavam se separando, ela ainda morava na casa dos pais e não queria ter que se dividir entre eles como se faz com criança pequena, e não conseguia um emprego, tinha acabado de se formar em bioquímica. Conversamos a respeito e decidi que ia levá-la para conhecer um amigo meu que é do ramo. Ela concordou, mas se apressou em dizer que era por causa do emprego e agradecia muito pelo apoio que eu tinha lhe dado. Conversamos mais um pouco, casualmente, e ela teve que ir. Aquele era o momento que eu temia. Ela me agradara e eu não queria que partisse. Ela se levantou, me deu um beijo na testa e saiu. Segurei sua mão, assim que ela se virou me lançou um olhar assustado e eu, não sei de onde, tirei coragem para perguntar.
-Vamos nos ver de novo? Para conversarmos a respeito de nossas vidas pessoais?
-Claro, depois do encontro com seu amigo nós podemos vir aqui.
-E só?
-Bom - ela ruboreceu- a gente se vê.
-Hoje à noite às 21hrs no salão da Catedral.
-Como?
-Vá. Eu te peço.
Ela sorriu e continuou andando. Passei o resto do dia imaginando que ela não iria. Ficaria sozinho, de novo, na festa de final de ano, que serve mais como um encontro de casais, onde todos que trabalham no escritório são obrigados a comparecer. Às 19:30 eu já estava pronto e inquieto. Tentava ler, não conseguia. Tentava cochilar, não conseguia. Resolvi sair, mas não para o lugar onde eu ia habitualmente, claro. Saí vagando pelas ruas da cidade pensando naquela linda moça que conheci, será que ela vai? E assim segui pensando e fui para  o salão. Cheguei às 21:10. Estou atrasado. E se ela veio, não me viu e se foi? Resolvi perguntar, por via das dúvidas. Não, ela não tinha ido. Que alívio, por enquanto. Desiludido, meia hora depois, eu fui me sentar com os colegas, agora desacompanhados. Com o pensamento longe, mas prestando atenção pois não queria ouvir chacotas a respeito de seu ar pensativo. Quando de repente sinto uma mão leve e macia em meu ombro e vejo as faces assustadas de meus amigos. Hesito um pouco e ao me virar eu a vejo. É ela, ela veio. Ela veio me ver, veio porque eu pedi. Minha Geovana. minha Geo. Ela sorri e com duas taças de champagne na mão pergunta: 
-Você quer, Isaac?

3 comentários:

Kênnia Méleus disse...

Moça, esse layout novo está bem mais agradável que o verde. Fica bom de se ler, sabe? Talvez pelo fato de ser neutro. Enfim, confesso que não tinha gostado tanto do seu blog, mas agora... Está lindo! E o texto, maravilhoso. Adorei a simplicidade que torna tudo encantador. Parabéns.

deia.s disse...

Que encantador, sem dúvida amei esse post. Não sei se é porque sou apaixonada por amoras, e elas me prenderam ao texto. Mas a escrita está ótima, realmente ótima.

Parabéns flor (:

Kênnia Méleus disse...

Selo para você :D Olha lá no Busílis.