sábado, 6 de dezembro de 2014

Carta ao velho Noel

Querido Papai Noel,

Esse ano eu fui uma boa garota. Ou ao menos achei que fui.
Mas fizeram questão de me mostrar que por mais que eu me esforçasse eu não passei essa ideia. Estou quase me convencendo de que é verdade, mas já não sei.
Pra começar, eu fui idiota. Aguentei calada o abuso, o gaslighting, as agressões, os estupros. “Ele me ama, só está um pouco alterado”, usei isso como desculpa para não denunciá-lo. Agora ele e a nova mulher espalham coisas absurdas e me difamam pelos quatro ventos.
Depois, fui covarde. Além de não reagir a ele, não reagi às mentiras. Não levantei a voz para me explicar, para impedir que meus amigos (que eu sempre considerei verdadeiros) se afastassem de mim. Voltei a ser a mesma menina solitária de sempre. E fugi. Fiz questão de ir para um lugar diferente onde ninguém sabe da história e permaneço, agora no papel de uma pessoa feliz.
Larguei duas graduações em menos de seis meses. Não cheguei nem a assistir aula de nenhuma delas. A depressão me consumiu. Mais uma vez fui covarde e deixei-a tomar conta de mim. Afinal, era só eu levantar a cabeça e seguir em frente, não? (contém ironia)
Passei por tudo isso só. E desisti de mim, quase morri por descuido. Mesmo com toda essa crise hídrica, eu tenho certeza que ninguém morre no Brasil por desidratação crônica, mas eu cheguei perto. Fiquei inerte, rígida. Perdi os movimentos dos músculos dos braços, pescoço e costas por pura falta de água. Sim. E pelo emocional abalado, minhas doenças autoimunes entraram em crise todas ao mesmo tempo e eu não movi um dedo para melhorá-las, não fazia sentido me curar. Pra quê continuar com isso tudo?

Sempre ouvi falarem que um dia as mascaras caem. Acreditei que era porque as pessoas descobriam o que estava por trás daquilo. Hoje eu sei que algumas só caem porque a pessoa não tem mais força para segurar a mascara em si.

Então, Papai Noel, sabe o cachorro preto chamado Depressão? Ele foi o que ganhei há uns oito anos. Agora eu quero pedir de presente que você o leve de mim, ao menos por um tempo. Alguns meses, talvez um só, já seria o suficiente.
Quero poder levantar um dia, olhar pro céu e não sentir vontade de me jogar da varanda.


Com afeto,

Da menina que ainda espera, um dia, sorrir feliz.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Soneto da melancolia matinal pós-desentendimento conjugal

Quase não atendi
Quase desliguei
Quase perdoei...

Agora está tudo bem
Sem choro, sem vela
Sem dor e sem morte..

Do lado de cá meu peito ainda aperta
Meu riso ainda chora
E a minha voz.. 
Essa ainda não sai.

Ofensas gratuitas, desculpas fingidas
Um lixo quando revirado só aumenta o mau cheiro
Um bicho feroz quando cutucado tende a reagir
E o amor ainda prevalece..

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ah, como amava aquela moça...
Era a pessoa mais feliz quando me encontrava em teus braços. Sentir teu perfume,  tua pele ao passar na minha, me dói lembrar. Tive uma espécie de alergia à mulher que amava. E como amava...
Procurei em outras moças teu sorriso e tua dedicação às causas mais nobres. Procurei teu abraço em outros pares e teu amor em outros portos. Em vão.
Hoje, tanto tempo depois, vivo sozinho e sem maiores intenções. Ainda te amo, moça. Mas não mais existo por ti.

Maria, a louca

"Maria que chamam de louca
Virou brincadeira da turma da rua
Soltou gargalhada, deitou na calçada
Deu grito infinito, gemido profundo
De tão contraído seu rosto se abriu
E se encheu de ternura, pois é, quem diria
Da louca Maria restou a poesia
Da moça Maria restou a mulher"

[O. Montenegro]